logo

EVANGELIZAÇÃO: DA DEFESA DO CATOLICISMO À AÇÃO SOCIAL

Por Frei Jacir de Freitas Faria

A história começou com o Vigário da vizinha cidade de Carmo do Cajuru, Padre José Alexandre Mendonça, ao sugerir ao Arcebispo de Belo Horizonte, Dom Cabral, de oferecer a Paróquia do Divino Espírito Santo, atual Catedral da Diocese de Divinópolis, aos franciscanos da Província dos Santos Mártires Gorgomienses, da Holanda. O que motivou a sua proposta foi o fato de a cidade de Divinópolis, um promissor centro industrial, estar sendo influenciada por propagandas anticlericais e comunistas. Os padres Franciscanos, pensava ele, seriam a solução.

Nos anais da história, ficou registrado que os franciscanos teriam a missão de evitar as emboscadas políticas a que os padres seculares estavam sendo levados, barrar o comunismo, o protestantismo, o espiritismo, a maçonaria e o ateísmo. Frei Odulfo van der Vat escreveu, em 1947, que essa foi a motivação da construção Santuário Santo Antônio, iniciado em 1928. Ele ainda acrescentou que ainda os frades deveriam unir pátria, religião, bandeira e cruz.

A primeira residência dos frades foi um sobrado, de propriedade da Santa Casa, que ainda hoje existe na praça da Catedral. Ele foi alugado pelos frades por trinta mil réis mensais.

Sobrado da Primeira Residência dos Franciscanos em Divinópolis (1924-1926)

Os frades aí residiram de 10 de agosto de 1924 a 16 de abril de 1926, quando foram transferidos para o convento Santo Antônio, construído no terreno recebido como doação pela municipalidade, entre as ruas Sete de Setembro, 21 de abril, Minas Gerais e São Paulo. Tratava-se de um terreno no serrado, inóspito e longe da cidade. No entanto, foi a presença dos frades nesse local que propiciou a expansão do centro da cidade para essa região.

Convento antigo e a nova construção

Frei Hilário Verheij foi o primeiro pároco franciscano em Divinópolis, à época, intitulado de Vigário. Ele coordenou a construção da capela de Santo Antônio, onde hoje é a Casa Paroquial da Paróquia Santo Antônio. Ela foi inaugurada em 7 de setembro de 1927.

Frei Hilário era muito dedicado à evangelização e às construções. Conta-se que ele salvou um homem anticlerical, que estava prestes a ser jogado pelo povo nas correntezas do rio Itapecerica.

O Comissariado dos Franciscanos, no Brasil, teve a sua sede transferida de São João Del-Rei para Divinópolis, no 19 de janeiro de 1925, onde permaneceu até 1959. A construção do Santuário Santo Antônio teve início em 1928 e terminou em 1934. A capela do bairro Esplanada, atual Igreja da Imaculada Conceição, foi inaugurada em 1932. A Paróquia Santo Antônio, desmembrada da Paróquia do Divino Espírito Santo, foi criada em 1º de janeiro de 1945. Seu primeiro Vigário (Pároco) pároco foi Frei Metelo Geeve, e o atual, Frei José Aguinaldo Querobino.

No dia 23 de dezembro de 1934, o sino do Santuário, fundido nas oficinas da Rede Ferroviária e doado pelo então governador de Minas, Benedito Valadares, que também deu nome à praça do Santuário, foi abençoado de forma solene. O relógio do Santuário veio da Holanda, em 1937.

Nesse ano, a população de Divinópolis era de 18.000 habitantes. Os frades da época deixaram registrado que a cidade estava em franco crescimento religioso e moral. À única coisa que atrapalhava era o espiritismo, que tinha acabado de construir mais um templo. O povo era muito devoto, gostava de muitas barraquinhas nas festas de Santo Antônio e de São Francisco. A semana Santa era animada. No Santuário havia muitas ordenações presbiterais de frades holandeses e brasileiros.

Muitas associações religiosas surgiram na cidade para manter a fé católica, como a Ação Católica, os Círculos Operários entre os operários da Rede Ferroviária e a Irmandade das mães cristãs.

Os franciscanos sempre estiveram envolvidos na vida política de Divinópolis desde os seus primórdios. Um fato pitoresco chama a nossa atenção. No dia da inauguração da cruz, na torre do Santuário, em 1936, o povo, juntamente com os frades fizeram uma grande festa na praça pela vitória Liga Eleitoral Católica nas eleições municipais, quando foi perdedor o partido
de Pedro X. Gontijo, apoiado pelos anticlericais (Chico Doido.), os quais se utilizaram de muitas fraudes e falsificações nas eleições. O cronista da época escreveu que, naquele momento, os padres e o próprio povo católico podiam respirar mais tranquilamente!

Os franciscanos atuaram pastoralmente não somente em Divinópolis, mas também nas cidades da região Centro-Oeste, como: Carmo do Cajuru, São Gonçalo, Santo Antônio do Monte, onde ficaram até 1946; Marilândia; São Gonçalo do Pará; São Sebastião do Oeste, onde muitos frades holandeses passavam temporada para aprender português; Paróquia Santo Antônio, no atual distrito de Ermida.

As comunidades da Vila Operária, atual Esplanada, e São Geraldo, nasceram com a criação da Paróquia Santo Antônio. No entanto, os franciscanos eram também responsáveis pela Igreja Nossa Senhora da Guia, que se tornou Paróquia em 1959, Igreja São Cristóvão, São Sebastião, no Afonso Pena, e Senhor Bom Jesus, no bairro Niterói. As congregações religiosas femininas que se estabeleceram em Divinópolis, após a chegada dos franciscanos, sempre tiveram assistência religiosa dos frades, assim como a Ordem Terceira Secular.

Em 1937, os freis fundaram as Cruzadas Eucarísticas em Divinópolis e em Santo Antônio do Monte. No início da década de 1940, Divinópolis contava com 13000 ferroviários, sendo maioria católica, ainda que recebessem influências do protestantismo e espiritismo, apoiados pelos dirigentes da Ferrovia, a maior da América Latina.

Para neutralizar o espiritismo no meio dos pobres, os frades franciscanos fortaleciam os movimentos dos Vicentinos, dos Marianos, da Irmandade do Sagrado Coração e da Ação Católica.

Frades e 32 catequistas preparavam crianças para a Primeira Comunhão na roça, nas escolas e nas igrejas.

Frei Benardino Leers e equipe, na zona rural: evangelização e cuidado com a saúde.

É também da década de 1940 a criação de uma farmacinha para oferecer remédio aos pobres.

Em 1945, a relação da política com a evangelização estava acirrada. Havia doze partidos. Os frades cogitaram em trabalhar nas oficinas da Rede Ferroviária. O anticlerical Chico Doido declarou aos quatro ventos: “o dia em que eu ficar prefeito de Divinópolis, entrarei a cavalo no Santuário. O Santuário vai ser um cinema!” A resposta dada pelos frades foi a criação do Cine Teatro Santo Antônio, como escreveu o ilustre estudante de Teologia do Convento de Divinópolis, de saudosa memória, Cardeal Dom Aloísio Lorscheider, em setembro de 1945. Em 1948, os maçons atacaram os frades e a religião, o que levou os católicos a fazerem manifestações públicas em defesa dos padres franciscanos e da fé.

A defesa da fé

Quando foram celebrados os 25 de presença franciscana em Divinópolis, em 1949, o cronista escreveu que a situação espiritual da cidade, de 60.000 habitantes, já tinha 3 paróquias, 8 capelas e 230 Terciários Franciscanos. Os frades já haviam realizado 630 pregações, 1.155 batizados, 39.000 confissões, 180.000 comunhões, 201 casamentos, 250 Extrema-Unções.

Como consequência de uma ação evangelizadora voltada para o social, em 1957, Frei Isidro Bottega criou as Obras Sociais da Paróquia Santo Antônio, Ela nasceu para dar continuidade ao programa “Pão de Santo Antônio”, também criado pelo Frei Isidro, o qual consistia em oferecer o pão, na portaria do convento, às terças-feiras, para a população carente da cidade. Essa prática continua até os dias de hoje, com a distribuição diária de café da manhã para as populações de rua.

Com a sua criação das Obras Sociais, o “Pão de Santo Antônio” foi transformado em “Sopa de Santo Antônio”. No decorrer dos anos, surgiram inúmeras ações sociais, tais como: Clube de Mães; Jardim dos Santos Anjos; Escola Vocacional São Francisco de Assis (até 1960), posteriormente, Escola Profissional São Francisco de Assis para crianças e jovens carentes; Lactários; Pré-escolar, no Bairro Bom Pastor; Agência de empregadas domésticas; Restaurante das Crianças, na comunidade São Geraldo; Restaurante para crianças e adultos, na Lajinha, atual Bairro São João de Deus; ADAP (Aliança Divinopolitana de Assistência e Promoção); Restaurante do Povo; Horta Agrícola às margens do rio Itapecerica; Comércio de papel velho; Lavanderias nos bairros Catalão e São João de Deus; Atendimento Pré-Escolar; Escola Agrícola Frei Brás, nas dependências do Convento; Centro do Bem-Estar, no edifício Frei Mariano Gijsen. Acrescente a essas obras a criação do Salão Paroquial e da Churrascaria Mangueiras, tendo como objetivos ser lugar de encontros da família e levantar fundos financeiros par manter financeiramente as Obras Sociais,

O convento Santo Antônio e a Paróquia Antônio sempre estiveram de portas abertas para acolher reuniões e movimentos sociais e religiosos da cidade. Em 1979, por exemplo, o Santuário abriu suas portas as assembleias da greve dos professores. A evangelização sempre foi além da vida conventual. Vale ressaltar o trabalho incansável de Frei Leonardo Lucas no apoio dado à religiosidade popular, de modo particular ao Congado da cidade e região. É de intuição também de Frei Leonardo a realização de Encontros Culturais Franciscanos, os quais abordam várias temáticas sociais
e religiosas.

Comments are closed.